A história do Citroën Méhary

Detalhes: Escrito por: Administrator; Categoria: O 2CV; Publicado em 10 março 2024; Visualizações: 837

A história do Citroën Méhary

O Citroën Méhari foi um automóvel produzido pela Citroën, entre 1968 e 1987. Tendo por base mecânica o 2CV, a carroçaria em plástico do Méhari assenta sobre um chassi tubular, e um exterior com origem na SEAB, uma sociedade especializada na moldagem de plástico. Entre 1968 e 1987 foram produzidas cerca de 145.000 unidades do Méhari, das quais 20.000 na Fábrica de Mangualde, em Portugal.

Foi apresentado a 11 de Maio de 1968, e era um conceito inovador, embora fosse construído sobre a plataforma do Dyane 6. Caracterizava-se por uma carroçaria em plástico ABS, colorido na própria massa, numa proposta idealizada por Roland de La Poype. Este material engenhoso e leve, permitia ao Méhari não exceder os 525 kg de peso. Além disso tornava-o imune à corrosão, o que o tornava perfeito para zonas junto ao mar e água no geral.


Foto: Méhari na côr Orange Kirghiz	Foto: Méhari branco "Beige Hoggar" com o vidro rebatido

Outra vantagem era a sua elevada modularidade, pois a sua estrutura é totalmente descapotável acima da zona do tablier, e até o pára-brisas se dobrava sobre o capot. Tal como o seu predecessor 2CV, foi pensado para chegar a todo o lado, e o seu chassis elevado e baixo peso total, conferia-lhe qualidades de condução sem precedentes dentro e fora de estrada, mas especialmente em areia.

Em 1978 surge uma nova versão, com profundas alterações a nível da mecânica e da carroçaria.

E em 1979 é apresentada a versão 4X4 que permitia ultrapassar zonas com uma inclinação de até 60º. Tal foram as suas surpreendentes qualidades de todo-o-terreno, que o Mehari chegou a ser a viatura médica na assistência do Rali Paris-Dakar em 1980.


Foto: Méhari na nova versão de 1978, imagem retirada do filme publicitário.	Foto: Méhari versão 4x4 em detalhe técnico

Chegou também a ser produzido no Uruguai até 1979, montado pela Nordex, mas somente com tração dianteira, usando componentes mecânicos provenientes da Citroën Argentina e uma carroçaria de plástico reforçado com fibra de vidro, mais fácil de ser produzida, e com origem no Uruguai com moldes simples ( ao invés de ser moldada por injeção como em França).

A fabricação no Uruguay, na fábrica Quintanar, S.A. forneceu ao não só todos os Mehari Uruguayos mas também os 5000 aos 9000 AZAM M28 SPORT que foram para a Argentina.

Placa original e detalhes do modelo fabricado no Uruguay

Foto: Cortesia de Sabastian - Garage Mehari

Mehari Último modelo fabricado no Uruguai entre 78 e 1980

Foto: Cortesia de Sabastian - Garage Mehari

Em 19 anos de existência, o Méhari só teve duas séries especiais lançadas em 1983: a versão Praia ( Espanhola) e a versão Azur ( França. Itália e Portugal) com uma carroçaria branca e azul.


Foto: Méhari versão "Playa"	Foto: Méhari versão "Azur"

As séries do Méhari

Série 1: 1968 a 1969

A apresentação ao público foi feita no salão automóvel de Paris de 1968 e houveram algumas alterações relativamente ao modelo apresentado aos jornalistas: o Mehari série 1 recebeu o motor de 33 cavalos do Dyane acoplado à caixa de velocidades do 2 Cavalos Fourgonette, apenas tinha 3 cores (vermelho Hopi, beje Kalahari e verde Montana), os piscas traseiros estavam no para-lamas traseiro entre 2 asinhas, assentos dianteiros independentes deslizantes, o banco traseiro passou a ser rebatível criando uma área de carga plana, perdeu os tampões das rodas, recebeu faróis traseiros redondos, os piscas dianteiros retangulares passaram para os para-lamas dianteiros, o para-brisas rebatível era opcional fixável com elásticos, portas amovíveis (de série tinha apenas uma corrente) e capota de lona com paneis de vinil foram adicionados.

Série 2: 1970 a 1979

Em 1970 a Citroën fez algumas alterações para facilitar a produção: os piscas dianteiros passaram a ser redondos e colocados ao lado dos faróis dianteiros, adotam-se os faróis traseiros do HY, surge uma versão de apenas 2 lugares para aproveitar vantagens fiscais, passa a estar disponível a cor "laranja Kirghiz" e em opção pode receber uma embraiagem centrifuga, esguichos limpa-vidros e sistema anti-roubo.

Nos anos seguindes o Méhari foi recebendo alguns refinamentos adicionais, tal como o capot mais espesso e nervurado para maior resistência, um novo sistema de fixação do capot e capota, para-brisas em alumínio rebatível em série sem ângulos vivos, uma pega para o passageiro dianteiro, um painel de instrumentos completo com mais luzes de avisos e outras melhorias.


Foto: Comparação dos dosi modelos de capot do Mehari	Foto: Comparação das duas versões dos paineis de instrumentos

A partir de 1973 o motor recebe um novo carburador Solex, novo filtro de ar (que obriga ao capot com uma bossa central) e um depósito de combustível maior, agora com 25 litros. Em 1976 chega a cor o "Verde Tibesti" e os amortecedores dianteiros passam a ser hidráulicos.
Esta geração teve também uma novidade nas opções: as coberturas ENAC produzidas pela mesma empresa que fabricava os 2 Cavalos comerciais para a Citroën. Estas capotas tipo hard-top são feitas do mesmo plástico ABS e côr da carroçaria substituindo a capota de lona isolando o interior..

Série 2: Mehari USA - 1970

Em 1970 a Citroën tenta introduzir o Mehari nos Estados Unidos homologando-o como veículo comercial. Esta versão é facilmente identificável pelos faróis dianteiros redondos específicos e os piscas extras colocados lateralmente. Infelizmente apenas 1.000 unidades chegaram ao Havai como viaturas de aluguer da Budget


Foto: Méhari da versão dos Estados Unidos	Detalhe da versão dos Estados Unidos: Farol enorme

Entre 1971 e 1980 foi fabricada pela Citroën Argentina e Chile, com a versão Yagán ( 1972 - 1973).
Na argentina foram produzidas 3.997 unidades e na Argentina, na fábrica de Arica, aproximadamente 1.500 unidades.


Foto: Citroën Méhari produzido na Argentina entre 1976/77 na cor original	Foto: Citroën Méhari versão Yagán

Existiu ainda uma versão "Ranger". Este modelo Méhari, com uma preparação mais off-road, contava com um tecto rígido com vidros traseiros, e foi um trabalho conjunto da Dasur, S.A. ( carroçaria), Quintanar ( representante da Citroën) e da Nordex ( que montava tudo). Foi o último modelo a ser produzido localmente.


Foto: Méhari "Ranger"	Foto: Detalhe da brochura técnica da versão Ranger

Série 3: 1978 a 1987

No final do verão de 1977 a Citroën apresenta uma nova versão do Mehari, com alguns novos detalhes exteriores mas, principalmente mecânicos.

Exteriormente os piscas passam ao formato retangular e localizam-se por baixo dos faróis dianteiros, o para-choques dianteiro é plano, a grelha dianteira é desmontável, novo capot para albergar o novo filtro de ar e, surge uma novaopção de cor: o bege Hoggar. No interior recebe também melhorias: os cintos de segurança ventrais para os passageiros dianteiros e um volante mais pequeno. Mecanicamente recebe uma nova desmultiplicação da direção, o sistema de travagem do Ami 8 e o filtro de ar e carburador do LN passando a potência de 28 para 33 cavalos.

Série 3: Variantes

- Mehari 4x4: Produzido de 1979 a 1983

O Citroen Mehari teve varias variantes por todo o mundo, mas uma foi particularmente interessante: o Citroen La Dalat produzido no Vietnam. Nos anos 70 um concessionário da Citroen desenvolveu uma transmissão integral para o Citroen La Dalat e funcionou tão bem que a Citroen mandou vir um para França para ser desmontado e analisado. O resultado final foi o Citroen Mehari 4x4 apresentado ao publico em Maio de 1979.


Foto: Citroën Mehari 4x4	Foto: Citroën La Dalat produzido no Vietname

O Citroën Mehari 4x4 é exteriormente identificável pelo grelha protetora dos faróis dianteiros, os faróis traseiros eram do Acadiane e o pneu suplente passa para debaixo do capot. Mas o mais importante era sem duvida a transmissão integral com uma caixa de 4 velocidades, com redutoras para aproveitar todo o binário do 2 cilindros de 602 cm3 e 29 cavalos - conseguia trepar inclinações até 40%. Infelizmente não teve grande sucesso vendendo apenas 1.213 unidades entre 1979 e 1983. Qualquer Méhari 4x4 vale hoje em dia uma pequena fortuna!

- Variante ou versão "Azur" foi inicialmente pensada como pequena, mas rapidamente foi um sucesso e acabou por ser produzida em França, Itália e Portugal. Carateriza-se por uma carroçaria branca e azul, com detalhes fantásticos.


Foto: detalhes versão "Azur"

- Variante "plage"

O Mehari Plage, lançado em Espanha, era caracterizado pelo amarelo presente em todas as componentes do automóvel.

Série 4: o Méhari electrico

O Méhari eléctrico surge em 2018 como uma nova geração do famoso Méhari do século anterior.

Disponível em 4 cores de carroçaria, duas cores de tejadilho e uma cor de capota, com nomes sugestivos como o seu antecessor: “Into the Blue”, “My Funny Clementine”, “Say Yellow body” ou “Stellar White”.

Foto: Méhari original e o E-Mehari, que não está disponível em Portugal.

Outros tipos de Méhari no mundo

- O méhari completamente elétrico no mercado foi o L'E-STORY, construído por uma empresa francesa para recordar e oferecer uma versão atual do modelo. Equipado com um motor elétrico de 15 kW que debita 20 CV, atinge os 75 kms/h, tem uma autonomia de 148 kms.


Foto: O L'E-STORY em andamento	Foto: Motor eléctrico do L'E-STORY

As cores dos Méhari

As cores do Méhari foram integrada ao plástico ABS durante a produção, com opções de cores limitadas. Uma cor, a "Vert Montana", permaneceu como opção durante todo o período de produção do carro. Com exceção da edição limitada Azur, todos os nomes oficiais das cores referem-se a regiões desérticas.

À medida que a luz solar ultravioleta degrada a estabilidade da cor do plástico ABS, os carros não restaurados às vezes desbotam.


Rouge Hopi ( 1968-1975 )	Vert Montana ( 1968-1987 )	Beige Kalahari ( 1968-1977 )	Orange Kirghiz ( 1969-1987 )

É importante referir que devido ao processo de fabricação, a cor do material tende com o tempo a desbotar lijeiramente, pelo que existem variações ás cores originais.


Vert Tibesti ( 1976-1979 )	Beije Hoggar ( 1978-1987 )	Jaune Atacama ( 1980-1987 )	Azur ( 1983-1987 )

Na apresentação oficial foram utilizadas quatro cores que não estariam disponíveis no modelo de produção, nomeadamente: azul elétrico, o vermelho profundo, um tom turquesa e um cinzento metálico invulgar.

As versões especiais, tinham combinações de cores, nomeadamente:

A versão "plage" ou "playa" com a carroçaria pintada em cor amarela com apontamentos brancos e o letring "plage" em vários locais da pintura;
Versão Azur, com a carroçaria branca com portas azuis, grelha e capota em lona, assentos estofados em tecido em riscas largas de azul e branco.


Versão Azur (detalhe capot)	Versão Azur (portas)	Versão "plage" / "playa"	Letring "plage"

O sucesso popular e cariz mediático

Uma das grandes apostas da marca, na promoção do Mehari, foi a aposta nos media, como forma de reforçar as suas capacidades extraordinárias fora de estrada. O Citroën Méhari viria mesmo a tornar-se num fenómeno da sociedade ao longo dos anos, graças aos anúncios da Citroën, ao surgimento em filmes e em eventos automobilisticos. Por exemplo, o aparecimento na estreia da série “Le Gendarme de Saint-Tropez”, com Louis de Funès como protagonista.


Foto: Cena da série “Le Gendarme de Saint-Tropez”	Foto: O ator Louis de Funès no Méhari

Também a presença de Méhari's em diferentes rali-raids, incluindo o Liège-Dakar-Liège de 1969, o Paris-Kaboul-Paris de 1970 ou ainda o Paris-Dakar de 1980, contribuiram significativamente para a popularidade e notoriedade desta versão.

Foto: Méhari Support Vehicle, 602 cc, 29 bhp @ 5.750 rpm
720 kg, número 1 dos 10 utilizados. Em exposição no Conservatoire Citroën

Crédito da foto: Peter Boryn

A cronologia do Citroën Méhari

11 de Maio de 1968: lançamento do Méhari no Campo de Golfe de Deauville
Outubro de 1968: estreia pública no Salão Automóvel de Paris, Porte de Versailles
1969: participação do Méhari em diferentes rali-raids, incluindo o Liège-Dakar-Liège
Fevereiro de 1972: desvendadas as versões militares e policiais do Méhari
Verão de 1978: estreia no cinema, na saga de filmes “Les Gendarmes”, com Louis de Funès como protagonista
Maio 1979: nascimento da versão 4×4, que parte à conquista do Rali Paris-Dakar
1980: 10 veículos Méhari faziam parte da assistência do Paris-Dakar
Abril de 1981: o exército homologou o modelo Citroën Méhari 4×4 como um veículo militar ligeiro todo o terreno
1983: surge a série limitada “Azur” (700 exemplares), bem como a série “Plage”, destinada aos mercados da Península Ibérica
1987: termina a produção do Méhari, depois de 19 anos de existência e cerca de 145.000 exemplares vendidos
Final de 2015: quase 30 anos depois, a Citroën desvenda o E-Mehari, digno herdeiro 100% eléctrico do Méhari de 1968
Setembro de 2017: lançamento da edição limitada (61 exemplares) do Citroën E-Mehari “Styled by Courrèges”, homenagem ao ano de criação desta Maison de Couture francesa (1961)
Janeiro de 2018: a Citroën lança o novo E-Mehari proposta que beneficia de evoluções técnicas, um novo design de interiores e uma versão Hard Top
Maio de 2018: 50 anos após o surgimento do Méhari, a Citroën apresenta o “Art Car” E-Mehari, uma obra de arte muito colorida, pela mão do criativo Jean-Charles de Castelbajac
5 a 8 de Maio 2018: O Méhari Club de France organizou um encontro nacional em Amboise, para celebrar o 50º aniversário do modelo, ali reunindo cerca de 280 viaturas e 600 coleccionadores.